domingo, 14 de julho de 2013

The End ... PROCESSOS MORFOLÓGICOS



Oi pessoal! Essa é a derradeira postagem neste AVM (Ambiente Virtual Multiletrado) da matéria de Morfologia. Esse post foi feito por mim, Desirée, e também por minha dupla, Andrezza Oliveira, do blog Morflorlogia. Iremos falar um pouco sobre os processos morfológicos para criação e modificação de vocábulos.


O primeiro deles é o mais complexo e o mais utilizado na língua portuguesa, o processo de adição, onde os morfemas são adicionados a raiz. Esse processo, a afixação, se subdivide em 5 categorias:

A) Sufixação: A sufixação consiste em adicionar morfemas na parte final da raiz.
EX.: Informar - Informatizar / Casa - Casebre
B) Prefixação: Na prefixação, os morfemas são adicionados antes da raiz do vocábulo.
EX.: Feliz - Infeliz / Ler - Reler
C) Infixação: A infixação é a adição de vogais ou consoantes de ligação na formação dos vocábulos para facilitar a pronúncia.
EX.: Café - Cafeteira / Capim - Capinzal
D) Circunfixação: São afixos descontínuos que enquadram a raiz, sem significado isolado.
EX.: arruinar / esbravejar
E) Transfixação: Os transfixos inserem-se, de forma descontínua, em mais de um ponto da raiz, dividindo-a.
EX.: Árabe - r-s-m “desenhar” -> r-a-s-i-m “que desenha”

O segundo processo é o da reduplicação, que repete fonemas da raiz, com ou sem modificações. No português e em muitas ocorrências encontradas na internet, a reduplicação é ligada ao significado de onomatopéia, pois também há repetição de fonemas, porém para expressar ruídos ou exprimir sensações, emoções.
EX.: tique-taque

Kehdi (2007) enfatiza a diferença entre os dois quando cita: "Saliente-se, porém, que esses exemplos não se revestem de valor morfológico: ilustram, na verdade, o chamado redobro expressivo." (p.46).

A alternância é o terceiro processo morfológico. Como o próprio nome diz, é a substituição de alguns segmentos da raiz por outros, de forma não arbitrária, ou seja, não age da mesma maneira em todas as situações.
Alguns exemplos no português:

Verbo pôr: Eu pus - Ele pôs
Verbo poder : Eu pude - Ele pode
Verbo ir : Eu fui - Ele foi
Percebe-se que nesses verbos, a alternância foi entre os morfemas {u} e {o}

Verbo fazer : Eu fiz - Ele fez
Verbo ter : Eu tive - Ele teve
Verbo estar: Eu estive - Ele esteve
Já nesses verbos, a alternância foi entre os morfemas {i} e {e}

Esse fenômeno não acontece apenas no português, mas também no inglês, alemão e etc.
A alternância subdivide-se em dois :


APOFONIA
METAFONIA
Alternância entre a vogal /e/ e a vogal /o/
Alternância entre a vogal tônica em /o/ e /ó/
Presença X Ausência
Assimilação (Intervenção de vogais)
Variação da vogal da sílaba inicial quando se junta um prefixo
Som fechado (singular)  X  Som aberto (plural)
Mudança de significação ou função gramatical
Mudança fonética



O último processo estudado foi o da subtração. A subtração é a eliminação de segmentos da base para expressar um valor gramatical.
Exemplos :

TRANSCRIÇÃO FONÉTICA
FEMININO
MASCULINO
PALAVRA
Sat
Sa
Gato
IEd
IE
Feio
movEz
movE
Mau


No português, algumas palavras femininas são formadas por subtração de morfemas do masculino, como: Órfão – Órfã e Anão – Anã.


Para compreendermos melhor tais processos, iremos analisá-los em um trecho da canção "Olhos nos Olhos", de Chico Buarque:


"Quando você me deixou, meu bem,
Me disse pra ser feliz e passar bem.
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci,
Mas depois, como era de costume, obedeci.

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais"


Podemos retirar da canção alguns vocábulos criados por meio dos processos explanados acima:

Enlouqueci - criado a partir do processo de adição, com prefixação e sufixação.
prefixo {en} + raiz {lou} + sufixo {queci}

Rever - criado a partir do processo de adição, com prefixação.
prefixo {re} + radical {ver}

Pode - nas diversas conjugações de seu verbo, ocorre alternância.


Bom, com isso as postagens se encerram. Espero que tenhamos contribuído para o aprendizado da Morfologia!

Abraços.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Raiz, Radical, Vogal temática, Afixos...

O assunto de hoje é... Na verdade, OS assuntos de hoje são: Raiz, Radical, Afixos e Vogal temática. Vamos começar pela raiz... 


Não, não é dessa raiz que eu estou falando ...

Opa ..



Muuuuuuito menos dessa ! 
Vamos à raiz do português, morfologia! 

RAIZ  - Kehdi X Aronoff e Haspelmath
A raiz, para Kehdi, tem enfoque diacrônico, que é a compreensão baseada no processo evolutivo, desde antes até os dias atuais. A raiz é um morfema que não pode ser dividido, e é analisada em um grupo de palavras, ou seja, a raiz é o morfema comum a várias palavras do mesmo grupo lexical. Para descobrir a raiz de uma palavra precisamos estudar um grupo lexical e identificar o elemento morfológico que eles têm em comum. 
Seguem alguns exemplos de Kehdi, 1999. 

Terra
Terreiro                         
Terraria                        
Terreno
Térreo 

Percebe-se que todas as palavras têm um elemento morfológico em comum: -terr-, que, portanto, é a raiz.

Já para Aronoff e Haspelmath, a raiz é a base primária e elemento irredutível, com informação lexical básica. E são nesses autores que vamos nos embasar hoje, apesar de termos falado sobre os estudos de Kehdi em outras postagens. 

RADICAL - Aronoff e Haspelmath
Já falamos sobre raiz, agora vamos para o radical: é a base secundaria da palavra, em que é possível acrescentar novos morfemas (só pra relembrar... morfemas são partes de uma palavra) à língua. Então, RADICAL = RAIZ + AFIXO
Exemplo:

Mar (raiz) - Marinha (radical) - Marinheiro (sufixo) 

Afixo ? O que é isso ?
Afixos são morfemas que adicionamos à raiz e o processo se chama afixação. Mas como nem tudo são flores, eles dividem-se em: 
Sufixação: Sufixo + Raiz (Livro - Livro-s
Prefixação: Prefixo + Raiz (Feliz - Infeliz) 
Infixação: Infixo + Raiz (Rumpo - Rompo) 
Circunfixos : São afixos descontínuos que enquadram a raiz e não têm significado isolado.
Transfixos : São descontínuos e atuam numa raiz descontínua. 

E, por último, mas não menos importante... As vogais temáticas (verbais e nominais). São as vogais que acrescentamos à raiz e ao radical das palavras, para identificarmos, principalmente, gênero e conjugação. Elas possibilitam as palavras de receberem flexões. 

E agora, que tal aplicarmos toda essa teoria em algo que aparece constantemente no nosso dia a dia ? Anúncios ! 



Vamos analisar a palavra CAFETEIRA :
-CAFE-  Radical 
-EIRA- Sufixo 
-T- Consoante de ligação 

Por hoje é só, até as próximas postagens ! 


domingo, 12 de maio de 2013

FORMAS LIVRES, PRESAS E DEPENDENTES !

     Não é difícil imaginar porque algumas palavras sempre estão acompanhadas por outras e porque, na maioria das vezes, não fazem sentido algum quando se desprendem umas das outras. Seria possível compreender uma frase em que se diz apenas "de", "o" ou "a" ? Certamente não!. Mas e o "não" que eu acabei de escrever, faria sentido sem o "certamente"? Sim! Perceberam como as palavras "não" e "sim" mantiveram o sentido mesmo sozinhas ?. Bom, o assunto de hoje é mais ou menos esse. 

     Segundo Bloomfield (1993), a definição de um vocábulo formal é tida de acordo com seu funcionamento no nível da frase. Ele, então, propõe duas unidades formais em uma língua, que são as formas livres e presas. 
  1. As formas livres conseguem constituir, isoladamente, um enunciado suficiente para o entendimento na comunicação; sua extensão não excede os limites do vocábulo; resumidamente, são respostas mínimas a uma pergunta.
- Oi João, tudo bem ?
- Tudo! 
- Como vai ?
- Bem. 
- Vai sair hoje ?
- Sim.
- Para onde ?
- Lá!
- Vai sozinho ?
- Não! 
- E vai muita gente ?
- Vai. 

     Podemos perceber que as palavras "tudo", "bem","sim","lá", "não" e "vai" transmitem significado sozinhas, e não precisam de nada mais. Vamos combinar que fica meio grosseiro, mas pelo menos passam o recado! 

    2.  As formas presas, contrariamente às livres, não conseguem constituir, isoladamente, um enunciado. Ou seja, só funcionam ligadas a outras. 

- Oi João, tudo bem ?
- Tudo ótimo! Como é bom poder rever todos vocês! 

A palavra rever recebe o prefixo -re, que não tem poder algum quando fica só. 

Obs: Uma palavra pode ser constituída:
  • de uma forma livre mínima: hoje 
  • de duas formas livres mínimas: couve-flor
  • de uma forma livre e uma ou mais presas: leal-dade, in-feliz-mente. 
  • apenas de formas presas: re-abert-u-ra. 

     Mattoso Câmara Jr. (1970), propõe então, um novo conceito: as formas dependentes. Que não são nem livres, por não constituírem um enunciado isoladamente, apesar de funcionarem ligadas a elas, e também não são presas, pois não são separáveis como vocábulos. O que são elas ? Artigos,  preposições, algumas conjunções e pronomes oblíquos átonos. 

Agora um exemplo que pode facilitar muito a compreensão de todos esses conceitos: 


A música "Eduardo e Mônica" ilustra um casal de jovens que se conhecem quando ainda eram livres, e que depois de um tempo ficam dependentes um do outro devido ao sentimento que surgiu entre eles, e aí, quando nascem os filhos, ficam completamente presos um ao outro, já que precisam se ajudar na construção de dois pequenos "futuros da nação". 



domingo, 28 de abril de 2013

PALAVRA ?


O assunto da postagem de hoje é a PALAVRA, e o que seria a palavra ? 

Segundo os dicionários, palavra é: "Conjunto de sons articulados, de uma ou mais sílabas, com uma significação”. E segundo a morfologia ? A palavra é a unidade formal da linguagem, que pode construir um enunciado. E o vocábulo é a palavra considerada foneticamente construída de fonemas e sílabas, com ou sem tonicidade.
Morfologia ?
A morfologia vai ser nosso foco durante toda construção do blog, ela é o estudo da formação, classificação e estruturação das palavras, de modo isolado.

Os critérios de definição de palavra, segundo Valter Kehdi, são os seguintes: 

1.     Critério fonético: palavra e unidade acentual. Como diferenciar cavalo de cavá-lo e cálice de cale-se?
2.     Critério semântico: palavras iguais, mas com significados diferentes (polissemia). Normalmente diferenciamos pelo sentido da frase. Exemplos: manga (fruta) e manga (da camisa), amo (sentimento) e amo (servo), canto (verbo cantar) e canto (lugar). 
3.     Critério lexical ou sintático: não separabilidade dos elementos. As palavras não têm o sentido que deveriam passar quando qualquer modificador é acrescentado. Exemplo: guarda-chuva e guarda-velho-chuva. 

Agora, além de analisarmos a palavra, veremos também o comparativo das línguas,  formulado por August Von Schegel (1818) e reorganizado por August Schleicher (1821-1868), segundo Margarida Maria Taddoni Petter, em seu livro "Introdução à linguística". De acordo com esse comparativo, as línguas dividem-se em três tipos:

1.     Isolantes ou analíticas: todas as palavras são raízes, ou seja, não podem ser segmentadas em elementos menores. Exemplos de línguas isolantes: chinês, vietnamita e tai. 

2.     Aglutinantes: as palavras combinam raízes e afixos (singular, plural, pronomes etc.) distintos para expressar as diferentes relações gramaticais. Exemplos de línguas aglutinantes: turco, basco, húngaro e zulu. 

3.     Flexionais ou fusionais: as raízes e os elementos gramaticais se combinam para indicar a função das palavras. Não podem ser segmentadas por sons, significados e afixos. Exemplos de línguas flexionais: latim, português. 

Apesar de muitos estudiosos questionarem a respeito da polissintética, por seguir traços flexionais e aglutinantes, segue a descrição, segundo Humboldt:

   4. Polissintéticas ou incorporantes: morfologia complexa, capaz de colocar em uma única palavra vários morfemas, que seriam palavras independentes em muitas línguas analíticas. Exemplos de línguas polissintéticas: groenlandês, tupi-guarani. 

Obs: Nenhuma língua é exclusivamente isolante, aglutinante, flexional ou polissintética, elas simplesmente têm uma tendência maior a organizarem as palavras conforme algum tipo.  

O conhecimento maior de línguas fora do domínio indo-europeu permitiu à linguística rever seu conceito sobre "palavra" e os mecanismos utilizados para sua identificação. Os critérios semânticos mostram-se insuficientes quando aplicados a várias línguas, o critério sintático é o mais adequado segundo muitos linguistas. O que no português é apenas uma "palavra", em alguma língua polissintética seria uma "palavra sentença", o que não deixa de ser uma "palavra" para os linguistas. Confuso? Muito! Mas é assim que funciona... 
  
E para descontrair, segue uma charge, que casa com um dos assuntos abordados na postagem de hoje, a palavra homonímia (só para lembrar: palavras iguais com significados diferentes).   




Na charge a palavra "piso" teve dois significados, de piso salarial (que os professores tanto lutam para obter) e a pisada (do verbo pisar), que está ilustrada. A charge serve não só como um exemplo para matéria que foi exposta, mas também para refletimos a respeito da maneira como tratamos os profissionais da área de educação. Se todos precisam de um professor, por que o profissional com maior (e mais importante) atuação é o mais desvalorizado ?