sexta-feira, 31 de maio de 2013

Raiz, Radical, Vogal temática, Afixos...

O assunto de hoje é... Na verdade, OS assuntos de hoje são: Raiz, Radical, Afixos e Vogal temática. Vamos começar pela raiz... 


Não, não é dessa raiz que eu estou falando ...

Opa ..



Muuuuuuito menos dessa ! 
Vamos à raiz do português, morfologia! 

RAIZ  - Kehdi X Aronoff e Haspelmath
A raiz, para Kehdi, tem enfoque diacrônico, que é a compreensão baseada no processo evolutivo, desde antes até os dias atuais. A raiz é um morfema que não pode ser dividido, e é analisada em um grupo de palavras, ou seja, a raiz é o morfema comum a várias palavras do mesmo grupo lexical. Para descobrir a raiz de uma palavra precisamos estudar um grupo lexical e identificar o elemento morfológico que eles têm em comum. 
Seguem alguns exemplos de Kehdi, 1999. 

Terra
Terreiro                         
Terraria                        
Terreno
Térreo 

Percebe-se que todas as palavras têm um elemento morfológico em comum: -terr-, que, portanto, é a raiz.

Já para Aronoff e Haspelmath, a raiz é a base primária e elemento irredutível, com informação lexical básica. E são nesses autores que vamos nos embasar hoje, apesar de termos falado sobre os estudos de Kehdi em outras postagens. 

RADICAL - Aronoff e Haspelmath
Já falamos sobre raiz, agora vamos para o radical: é a base secundaria da palavra, em que é possível acrescentar novos morfemas (só pra relembrar... morfemas são partes de uma palavra) à língua. Então, RADICAL = RAIZ + AFIXO
Exemplo:

Mar (raiz) - Marinha (radical) - Marinheiro (sufixo) 

Afixo ? O que é isso ?
Afixos são morfemas que adicionamos à raiz e o processo se chama afixação. Mas como nem tudo são flores, eles dividem-se em: 
Sufixação: Sufixo + Raiz (Livro - Livro-s
Prefixação: Prefixo + Raiz (Feliz - Infeliz) 
Infixação: Infixo + Raiz (Rumpo - Rompo) 
Circunfixos : São afixos descontínuos que enquadram a raiz e não têm significado isolado.
Transfixos : São descontínuos e atuam numa raiz descontínua. 

E, por último, mas não menos importante... As vogais temáticas (verbais e nominais). São as vogais que acrescentamos à raiz e ao radical das palavras, para identificarmos, principalmente, gênero e conjugação. Elas possibilitam as palavras de receberem flexões. 

E agora, que tal aplicarmos toda essa teoria em algo que aparece constantemente no nosso dia a dia ? Anúncios ! 



Vamos analisar a palavra CAFETEIRA :
-CAFE-  Radical 
-EIRA- Sufixo 
-T- Consoante de ligação 

Por hoje é só, até as próximas postagens ! 


domingo, 12 de maio de 2013

FORMAS LIVRES, PRESAS E DEPENDENTES !

     Não é difícil imaginar porque algumas palavras sempre estão acompanhadas por outras e porque, na maioria das vezes, não fazem sentido algum quando se desprendem umas das outras. Seria possível compreender uma frase em que se diz apenas "de", "o" ou "a" ? Certamente não!. Mas e o "não" que eu acabei de escrever, faria sentido sem o "certamente"? Sim! Perceberam como as palavras "não" e "sim" mantiveram o sentido mesmo sozinhas ?. Bom, o assunto de hoje é mais ou menos esse. 

     Segundo Bloomfield (1993), a definição de um vocábulo formal é tida de acordo com seu funcionamento no nível da frase. Ele, então, propõe duas unidades formais em uma língua, que são as formas livres e presas. 
  1. As formas livres conseguem constituir, isoladamente, um enunciado suficiente para o entendimento na comunicação; sua extensão não excede os limites do vocábulo; resumidamente, são respostas mínimas a uma pergunta.
- Oi João, tudo bem ?
- Tudo! 
- Como vai ?
- Bem. 
- Vai sair hoje ?
- Sim.
- Para onde ?
- Lá!
- Vai sozinho ?
- Não! 
- E vai muita gente ?
- Vai. 

     Podemos perceber que as palavras "tudo", "bem","sim","lá", "não" e "vai" transmitem significado sozinhas, e não precisam de nada mais. Vamos combinar que fica meio grosseiro, mas pelo menos passam o recado! 

    2.  As formas presas, contrariamente às livres, não conseguem constituir, isoladamente, um enunciado. Ou seja, só funcionam ligadas a outras. 

- Oi João, tudo bem ?
- Tudo ótimo! Como é bom poder rever todos vocês! 

A palavra rever recebe o prefixo -re, que não tem poder algum quando fica só. 

Obs: Uma palavra pode ser constituída:
  • de uma forma livre mínima: hoje 
  • de duas formas livres mínimas: couve-flor
  • de uma forma livre e uma ou mais presas: leal-dade, in-feliz-mente. 
  • apenas de formas presas: re-abert-u-ra. 

     Mattoso Câmara Jr. (1970), propõe então, um novo conceito: as formas dependentes. Que não são nem livres, por não constituírem um enunciado isoladamente, apesar de funcionarem ligadas a elas, e também não são presas, pois não são separáveis como vocábulos. O que são elas ? Artigos,  preposições, algumas conjunções e pronomes oblíquos átonos. 

Agora um exemplo que pode facilitar muito a compreensão de todos esses conceitos: 


A música "Eduardo e Mônica" ilustra um casal de jovens que se conhecem quando ainda eram livres, e que depois de um tempo ficam dependentes um do outro devido ao sentimento que surgiu entre eles, e aí, quando nascem os filhos, ficam completamente presos um ao outro, já que precisam se ajudar na construção de dois pequenos "futuros da nação".